Editorial
Bondades eleitoreiras com nosso chapéu
Que grande parte dos congressistas brasileiros vivem desconectados da realidade e das necessidades do País é algo de conhecimento geral. No entanto, para além de colocarem convicções ideológicas individuais acima da disposição para o debate e aprovação de temas importantes para o desenvolvimento e redução da pobreza, há parlamentares que buscam se aproveitar das facilidades disponibilizadas pela máquina pública para obter mais vantagens e benesses. Exemplos disso são muitos. O mais recente é a decisão do presidente da Câmara dos Deputados de praticamente dobrar o valor repassado aos colegas a título de auxílio-moradia.
Não bastasse que muitos dos parlamentares recebam quase 3,5 salários mínimos (R$ 4.253) para custear gastos com aluguel de imóveis em Brasília, Arthur Lira (PP-AL) editou medida que autoriza o uso de mais R$ 4.148. Ou seja, a partir de agora, os representantes da população no Parlamento federal terão, mensalmente, R$ 8.401 à disposição para essa finalidade. Praticamente 6,5 vezes o vencimento básico de R$ 1.302 pago aos trabalhadores brasileiros. Valor, inclusive, aprovado pelo Congresso Nacional sempre debaixo de muito debate, já que cada real de aumento proposto costuma gerar críticas de muitas bancadas que enxergam na valorização de quem trabalha um problema para o País, um gasto difícil de suportar. Posição bem diferente de quando a benesse é para a casta congressista.
Ao conceder esse aumento no benefício aos seus colegas deputados, Lira não age por impulso ou por simples bondade. É importante contextualizar que em menos de uma semana haverá o recomeço do ano legislativo, com a posse dos deputados eleitos no ano passado e, como primeiro ato deste período, a eleição para a Mesa Diretora da Câmara. E o progressista Lira é candidato a continuar presidindo a Casa. Portanto, depende do apoio da maioria dos demais deputados e, embora seja apontado como favorito, não pretende dar brecha para uma reviravolta. Tanto que, além do auxílio-moradia, também permitiu o aumento do reembolso para pagamento de combustíveis, que poderá chegar a R$ 9.392 por mês. Considerando o histórico político brasileiro, de uma sanha por acúmulo de vantagens e privilégios, pode-se concluir que certamente estas medidas não foram mal recebidas pela maioria dos deputados.
É importante deixar claro que, por serem representantes da população dos estados e terem a necessidade de deslocamentos aéreos, comunicação e estrutura de trabalho, os deputados federais têm o justo direito a cotas para exercício do mandato. Contudo, é preciso bom senso e responsabilidade com o dinheiro público. Cobrar moralidade e austeridade nos gastos sociais, por exemplo, enquanto consome R$ 17,8 mil mensais em apartamento e gasolina é um desrespeito ao cidadão.
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